- Equipe Volitans -
Laura Tameirão Sampaio Rodrigues
Lucas Coelho e Silva
Lucas Costa Machado
O 6º Desafio ESSS de Modelagem Computacional é um desafio acadêmico que possui o objetivo de fomentar o intercâmbio de conhecimento entre as universidades e a indústria. Na competição, as equipes de estudantes desenvolvem simulações utilizando o software ANSYS para solucionar um problema de engenharia.
A equipe Volitans desenvolveu um trabalho de simulação de válvulas cardÃacas biológicas artificiais, visando avaliar a possibilidade da implementação da simulação no desenvolvimento do produto.
O site foi criado com o intuito de divulgar detalhadamente o trabalho realizado pela equipe, visto que vÃdeo desenvolvido apresenta de forma mais geral o estudo realizado.
1. Introdução
No Brasil, a necessidade da realização de cirurgias cardÃacas valvares é expressiva e crescente. Uma vez que 30% dos procedimentos cirúrgicos cardÃacos no paÃs decorrem de sequelas valvares, as cirurgias de substituição correspondem a uma parcela considerável do orçamento do SUS, devido aos elevados custos das válvulas.
Nessas cirurgias, a válvula que apresenta disfunções é substituÃda por uma prótese mecânica ou biológica. A válvula mecânica apresenta como vantagem a sua alta durabilidade. No entanto, esse tipo de válvula altera o sistema de tal forma que aumenta o risco de complicações tromboembólicas, fazendo com que o paciente necessite de medicamentos anticoagulantes. As válvulas biológicas, por sua vez, são constituÃdas de pericárdio bovino ou porcina, devidamente tratados e reconstituÃdos, reduzindo a taxa de rejeição dos pacientes com a utilização dessa válvula. No entanto, a válvula biológica apresenta um maior desgaste ao longo do tempo.
Visando prever o comportamento das válvulas biológicas, empresas especializadas realizam diversos testes em laboratório, que são de extrema importância para validar a válvula e manter a qualidade do processo de fabricação, mas possuem um custo elevado.
A fim de reduzir o custo da fabricação por válvula, e consequentemente, o valor do procedimento cirúrgico, foi proposto a realização de simulações no ANSYS que reproduzam os testes em laboratórios, consistindo em uma alternativa mais viável para validar o processo de desenvolvimento das válvulas.
2. Objetivo
O objetivo deste estudo consiste em avaliar a possibilidade da implementação de simulações no ANSYS no processo de desenvolvimento de válvulas cardÃacas artificiais biológicas. Com essas simulações, reduz-se o tempo empregado pela equipe de engenharia e os custos, além de ser possÃvel utilizar os resultados da simulação para aumentar a eficiência do produto.
3. Metodologia
Visando manter uma maior fidelidade do modelo matemático com a realidade, realizou-se uma vista técnica a Labcor, uma empresa que produz válvulas cardÃacas, para acompanhar alguns testes realizados no processo de fabricação, o que possibilitou delimitar as configurações mais adequadas nas simulações.
A geometria da válvula utilizada foi desenvolvida baseada em desenhos fornecidos pela empresa.
O problema estudado é uma situação transiente de alto acoplamento fÃsico do escoamento do fluido com a deformação estrutural. Dessa maneira, o problema numérico deve também apresentar um acoplamento alto. Assim, propôs-se uma simulação acoplando o Fluent com o Estrutural Transiente.
Como um problema de interação fluido estrutura apresenta convergência mais complicada e instabilidades na solução, realizaram-se simulações preliminares a fim de detectar possÃveis erros no modelo, garantindo a obtenção do modelo mais adequado possÃvel na simulação final.
Portanto, o problema foi divido nas seguintes etapas:
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Simulação fluidodinâmica da seção de testes
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Simulação Estrutural Estática
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Simulação de Interação Fluido Estrutura com acoplamento de uma via
4. Desenvolvimento
4.1. Simulação Fluidodinâmica
Gometria e malha
Na simulação fluidodinâmica, modelou-se em CAD a geometria da seção de testes.
Figura 4.1.1 – Geometria em CAD da seção de testes
Para o projeto da malha, analisou-se incialmente os elementos estatÃsticos da malha, tais quais Element Quality, Aspect Ratio, e Skewness. A malha foi refinada com base nos resultados da simulação, aferindo-se a pressão máxima na parede da válvula com a variação da qualidade da malha.
Figura 4.1.2 - Malha do domÃnio fluido
Figura 4.1.3 - Malha do domÃnio fluido
Configurações do Solver
Para a simulação fluidodinâmica, adotou-se o uso do Fluent. O solver foi configurado como transiente, e o fluido, viscoso laminar.
Fluido de Simulação
O fluido de simulação foi um modelo do sangue humano. A densidade utilizada foi de 1060 kg/m³ e, para a viscosidade, adotou-se o modelo de Carreau.
Para este, os parâmetros utilizados foram
Tabela 4.1.1 – Modelagem de viscosidade do sangue
Condições de contorno
Para as condições de contorno, a parede do duto foi setada como wall, o outlet foi definido como pressure-outlet, sendo a pressão adotada a de 14 kPa, correspondente à média das pressões diastólica e sistólica em um ser humano comum. O inlet foi definido como velocity-inlet, sendo a velocidade definida via UDF por um pulso que modela o fluxo sanguÃneo humano, condizente com o pulso aplicado pela máquina de testes.
Verificação
Conservação de massa e condições de contorno no inlet
Para verificar a simulação fluidodinâmica, checou-se a conservação de massa e condições de contorno no inlet. As condições de contorno do inlet a fim de garantir que a UDF esteja se comportando da maneira esperada.
Refinamento de malha e time step
Ao reconduzir a simulação com uma malha mais fina e um timestep menor, é possÃvel investigar as diferenças causadas pela discretização numérica.
4.2. Simulação Estrutural Estática
Visando observar o comportamento das deformações da válvula de maneira mais simples e rápida realizou-se uma simulação estrutural estática.
O material utilizado na simulação foi um Multilinear Isotropic Hardering e as suas propriedades baseadas em dados fornecidos pela empresa.
Condições de Contorno e de Contato
Utilizou-se Frictionless como a condição de contato entre as superfÃcies do folheto. Nas superfÃcies que são fixadas nos testes em laboratório, definiu-se Fixed Support. Aplicou-se uma pressão de 14kPa nas superfÃcies internas dos folhetos.
Figura 4.2.1 – Fixed Support nas faces laterais dos folhetos
Figura 4.2.2 – Faces de aplicação da condição de contato
Malha
Foi realizado um estudo de independência de malha utilizando como parâmetro de comparação o deslocamento máximo da estrutura.
Figura 4.2.3 – Estudo de independência de malha
Figura 4.2.4 – Malha do modelo estrutural dos folhetos
4.3 Simulação de Interação Fluido Estrutural com Acoplamento de Uma Via
Com base nas simulações fluidodinâmicas e estrutural estática isoladas, realizou-se uma simulação transiente de interação fluido estrutura de uma via utilizando-se do Transient Structural e Fluent acoplados via System Coupling.
Figura 4.3.1 – Configuração da simulação FSI no ANSYS Workbench
Geometria e Malha
A geometria e malha utilizadas para o estrutural e para o Fluent foram feitas com base nos resultados obtidos nas duas etapas anteriores.
Estrutural Transiente
No modelo do Transient Structural, definiu-se a região de interação fluido estrutura:
Figura 4.3.2 – Região da interface entre o fluido e a estrutura
Novamente, definiu-se também como fixed support a face lateral do folheto que, na realidade, está costurada ao stent da válvula.
O tempo total de simulação foi 1 s, correspondente aos dois perÃodos do perfil de velocidades modelado no inlet, com um timestep de 5 ms.
Fluidodinâmica
Além das configurações do Fluent apresentadas na simulação fluidodinâmica pura, configurou-se também o recurso de malha dinâmica (Dynamic Mesh) por difusão, a fim de avaliar o movimento da malha durante a interação fluido estrutura.
Acoplamento
O módulo de System Coupling do ANSYS Workbench foi utilizado para acoplar o Transient Structural ao Fluent. Lá, configurou-se a transferência de dados entre as regões de interação nos modelos modelos fluidico e estrutural.
5. Resultados
Figura 5.1 – Deformação dos folhetos na simulação estrutural estática
Figura 5.2 – Deformação dos folhetos na simulaçao estrutural transiente. Tempo = 0,6 s.
Figura 5.3 – Comparação entre imagem de ensaio fornecida pela Labcor e simulação feita
Observa-se pela comparação das imagens acima que a deformação máxima da valvula na seção de testes experimental e a deformação máxima do modelo da válvula na simulação são, qualitativamente, bastante próximas. No entanto, é necessário realizar medidas experimentais das deformações da válvula para se obter uma comparação quantitativa. Além disso, os resultados também se assemelham, qualitativamente, aos obtidos por Haj-Ali et al. [8].
6. Conclusão
O trabalho realizado para o 6º Desafio ESSS de Modelagem Computacional teve como objetivo avaliar a possibilidade da implementação de simulações no ANSYS no processo de desenvolvimento de válvulas cardÃacas artificiais biológicas.
Com base nas simulações realizadas, observa-se que, qualitativamente, os resultados foram satisfatórios. No entando ainda é necessário realizar medidas quantitativas dos ensaios nas válvulas e compará-las com os resultados obtidos nas simulações para assim poder implementá-las no desenvolvimento.
7. Trabalhos Futuros
Para trabalhos futuros, sugere-se a validação experimental com medidas quantiativas do estudo desenvolvido. Sugere-se também o estudo de fadiga nas válvulas com o uso de simulação, visto que os ensaios de fadiga são extremamente demorados e caro, visando, assim, a redução de custos com ensaios preliminares. Além disso, propõe-se a simulação a válvula acoplada a um modelo de aorta, tal qual as Figuras 7.1 e 7.2. Assim, pode-se analisar a influência da válvula na hemodinâmica da aorta a fim de se desenvolver válvulas mais eficientes.
Figura 7.1 – Sugestão futura: acoplar a válvula ao modelo de uma aorta
8. Bibliografia
[1] Wattona, P.N.; et al.; Dynamic modelling of prosthetic chorded mitral valves using the immersed boundary method; 2006.
[2] Nguyen, V.T.; et al.; Experimentally validated hemodynamics simulations of mechanical heart valves in three dimensions; 2011.
[3] Alia, R.H.; et al.; Structural simulations of prosthetic tri-leaflet aortic heart valves; 2008.
[4] Tu, J.; et al.; Computational Hemodynamics – Theory, Modelling and Applications; 2015.
[5] Teixeira, G.M.; Kessler, M.P.; Maliska, C.R.; Fontes de erro: identificar, quantificar e reduzir a intervalos aceitáveis.
[6] Fernandes, A.M.S. ; et al.; Impacto do perfil socioeconômico na escolha da prótese valvar em cirurgia cardÃaca; 2012.
[7] Haj-Ali, R; et al.; Strucutral simulations of prosthetic tri-leaflet aortic heart valves; 2008.
[8] de Hart, J; Fluid-Structure Interaction on the Aortic Heart Valve, a three-dimensional computational analysis; 2002.
[9] Sinnot, M.; et al.; An investigation of pulsatile blood flow in a bifurcating artery using a grid-free method; 2006.